Ele sumiu aos 4 anos e imagem o retrata aos
32 anos.
Foto foi divulgada na manhã desta
quinta-feira (7) em São Paulo.
Uma explosão de sentimentos foi como definiu
a mogiana Divanei Pereira, de 50 anos, ao ver a foto de seu filho, desaparecido
com 4 anos, atualmente com 32 anos. Ela esteve na manhã desta quinta-feira (7)
acompanhada da família no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa
(DHPP) para conhecer a imagem. O menino Kennedy Robert Pereira desapareceu da
casa da avó materna em Mogi das Cruzes (SP) em 11 de abril de 1986. Por três
meses peritos do laboratório de arte forense do
DHPP, na capital, trabalharam para elaborar a foto que mostra como o
garoto estaria hoje.
Segundo Divanei, a pedido do DHPP ela
entregou fotos dela, do marido, do garoto e das filhas para que a imagem
pudesse ser elaborada.“Na minha memória sempre ficou gravado o Kennedy com 4
anos. Eu nunca consegui visualizar como ele seria hoje. Foi uma emoção, uma
explosão de sentimentos.
Mostrar um homem adulto coisa que a gente não
tem na mente. Hoje a gente vê esse rapaz com 32 anos. Ele está parecido com a
minha família, as minhas filhas. Com essa foto nossa esperança foi renovada. E
nós aguardamos quem por ventura ver esse rapaz por gentileza entrar em contato
com a nossa família. Vai ser uma emoção grande
reencontrá-lo.”, relata a mãe.
Ela contou que antes de fazer a foto de
Kennedy o DHPP estava produzindo, a imagem de outras quatro crianças. Por isso,
a família precisou aguardar durante este tempo.
“A foto em si ficou parecida com a família e
comigo. Acredito que esse trabalho do DHPP nos ajude a encontrá-lo. Pelo menos
temos um rosto para visualizar.
Eu vejo semelhança dele comigo quando era
jovem. O coração fica apertado e cheio de esperança”, afirma o pai do menino,
Pedro Pereira.
Para o coordenador do laboratório de arte
forense do DHPP, Sidney Barbosa a região da boca foi a que deu mais trabalho
para o envelhecimento da foto de Kennedy. “Ele estava com chupeta e isso obstruia a
região. Mas, a gente teve fotos dos familiares que foi uma ajuda importante. A
margem de erro de um retrato eleborado, como esse, é pequena. Isso porque
partimos do rosto da criança e não criamos a partir de descrição verbal, como
no retrato falado.
Durante o trabalho, vamos acrescentar o
crescimento da face, tirar o cabelo, acrescentar ou subtrair um dente que pode
ter perdido com passar do tempo. Isso afeta no aspecto do rosto.” Quem souber
de algumam informações sobre Kennedy pode ligar para o Disque-Denúncia 181.
Desaparecimento
Segundo a mãe, no dia do desaparecimento
havia muitas pessoas em um pico perto de onde a família morava, em Mogi, para
observar a passagem do cometa Halley. "Acredito que ele não esteja no
Brasil. Deve ter sido levado por alguém para outro país. Atualmente, depois de
tudo o que passei, estou preparada e posso dizer que perdoo a pessoa que pode
ter levado o meu filho embora", diz a comerciante.
Se estiver vivo, Kennedy é um homem de 32
anos completados no dia 22 de fevereiro. As fotos de criança são de um menino
de cabelos loiros e encaracolados. A mãe guarda os poucos retratos do garoto,
assim como um caminhão de plástico dos bombeiros. "Ele amava este brinquedo",
lembra.
Segundo Divanei, a infância do menino foi
feliz. "Era uma outra época. Não tinha esse perigo que temos hoje de
deixar crianças na rua. Nós morávamos em um bairro com ruas de terra. Minha mãe
e minha sogra viviam a poucos metros da minha casa", detalha.
No dia 11 de abril de 1986, por volta das
16h, a comerciante deixou os filhos Kennedy e Karina, de 5 anos, na casa de sua
mãe, a poucos metros de onde morava, no bairro Ponte Grande, em Mogi das
Cruzes. A comerciante e o marido foram ao centro da cidade. "Era um dia bonito,
estava sol. Meus filhos estudavam em uma escolinha no jardim da infância, mas
não consigo me lembrar o motivo pelo qual eles não foram à aula nesse
dia", detalha. Por volta das 18h, o casal retornou à Ponte Grande.
Divanei foi para a casa e pediu para que o
esposo fosse buscar as crianças na casa da mãe dela. "Ele voltou somente
com a Karina e me disse, nessas palavras, 'Bem, eu não achei o Kennedy'. Fui
correndo para a casa da minha mãe. O menino desapareceu enquanto brincava na
rua e a avó não tinha percebido. "A noite caiu e nós notamos que ele
[Kennedy] realmente havia sumido", lembra a comerciante.
Uma grande mobilização tomou conta da cidade.
A mogiana diz que vieram policiais de São Paulo para ajudar nas buscas.
"Por vários dias esses policiais fizeram buscas no Rio Tietê, já que havia
suspeita de que meu filho pudesse ter desaparecido por lá", explica. O
tempo passou e cada vez mais as notícias sobre o possível paradeiro do menino
iam se diluindo. "Eu era uma garota de vinte e poucos anos. Fiquei muito
deprimida e emagreci bastante. Cheguei aos 43 quilos", conta.
O misterioso sumiço da criança ganhou
destaque na imprensa de Mogi das Cruzes e de todo o Brasil. Divanei mantém boa
parte destes recortes de jornais da época. Em 2002, uma revista americana
divulgou uma matéria mostrando como seria o rosto de Kenned aos 18 anos. A
técnica de evolução da face, segundo a comerciante, foi feita pela polícia
americana, a Swat. Para chegar ao suposto rosto do menino, eles usaram
características da mãe, pai e irmã: "Eu era associada a 'Mães da Sé'. Eles
[Swat] escolheram o Kennedy para fazer este trabalho por causa do tempo em que
ele já estava desaparecido", justifica.
Cometa
Halley
Divanei tem uma suspeita: o filho pode ter
sido levado por pessoas de outros países que visitavam Mogi das Cruzes no dia
do desaparecimento. "Havia um grande movimento de pessoas estrangeiras e
de posse na cidade. Naquela noite o cometa Halley passaria perto da Terra. Por
isso, havia muita gente seguindo em direção ao Pico do Urubu. E todo esse
engarrafamento de carros passava justamente na nossa vizinhança", conta.
Por causa dessa suspeita, Divanei tem quase certeza de que seu filho esteja
vivendo em outro país. "Ele deve estar bem", afirma.
DNA
Em 1996, um programa de televisão encontrou
um menino com as mesmas características no estado de Alagoas. Mas, após dois
exames de DNA, ficou compravado que não se tratava de Kennedy. "Foi uma
frustração. Eu tinha certeza que era meu filho. O Marcelo [menino encontrado]
possuía uma cicatriz no pé identica à do Kennedy. Mas os exames apontaram que
não era ele. Essa criança foi encontrada em um orfanato em Alagoas",
explica.
Desde então, Divanei não teve nenhuma outra
pista concreta sobre o paradeiro da criança. Desde 2013, a família mantém uma
página em uma rede social, com fotos de como seria o rosto de Kennedy aos 18
anos e o tipo sanguíneo dele. No espaço também há fotos de recortes de jornais
e informações do caso. Além do idioma português, a página tem versões em inglês
e espanhol.
Atualmente, Divanei continua trabalhando como
comerciante em Mogi das Cruzes. Ela vive com o marido e a filha mais nova,
nascida anos após o desaparecimento do irmão, em um outro bairro. A outra
filha, que estava com Kennedy no dia do desaparecimento, se casou, conforme
disse Divanei. "Assim vou levando a minha vida. Nunca me culpei pelo
acontecido e atualmente não culpo e não tenho raiva de ninguém. Aprendi que não
se cai uma folha de uma árvore sem que Deus permita. Enquanto houver um fôlego
de vida, sempre haverá esperança", concluiu.
*Do G1.