Na maioria dos casos, a culpa é dos pais, que
deixam os pequenos em situação de risco. Delegada dá dica e pede atenção
redobrada dos responsáveis
Quase 1,2 mil crianças menores de idade desapareceram
em 2014 em Manaus, conforme registro da Delegacia Especializada em Proteção a
Criança e ao Adolescente (Depca).
De acordo com a titular da Depca, delegada
Linda Glaucia, todos os casos foram solucionados. “Nós registramos os casos
como fuga/desaparecimento. A mãe sente falta, registra o caso como
desaparecido, mas na maioria das vezes é um caso de fuga e todos nós
solucionamos em 2014”, confirmou. Ela relatou que desde 2000 até este ano, seis
crianças continuam desaparecidas. Em todos os casos, foram sequestradas, porém
continuam sendo investigados.
Segundo Linda Glaucia, o principal fator para
o desaparecimento de uma criança é a falta de responsabilidade dos pais em não
acompanhar a rotina do filho. Deixar que um menor abaixo dos 10 anos de idade
vá a um estabelecimento comercial, mesmo que situado a alguns metros da sua
casa, pode acarretar em um grave problema. A criança pode ser vítima de
estupro, prostituição, aliciamento para o tráfico de drogas e sequestro.
Por causa dessa “ordem” ao menor, a mãe ou o
pai podem ser indiciados criminalmente. Conforme a delegada, dependendo da
localidade da casa e grau de risco do bairro, os pais podem responder pelo
crime de abandono de incapaz, pena que varia entre seis meses a três anos de
reclusão. Um crime que é afiançável, mas caso não seja efetuado o pagamento, o
responsável será recolhido à cadeia pública.
“Em um local que permite uma maior atenção da
mãe, como um bairro com maior índice de violência, e ela permitir que uma
criança menor de 10 anos saia para ir a algum estabelecimento próximo e, no
meio do caminho, acontece algo com ela, ou seja, um estupro, um aliciamento, eu
vou indiciar sim, porque a responsabilidade maior é dela. Tá previsto em lei
isso. Zelar e cuidar do filho são deveres da mãe”, explicou Linda Glaucia.
A delegada alerta às genitoras para que não
deixem seus filhos ficarem sozinhos na companhia de um estranho. “Para evitar,
não permita que seu filho fique sozinho nunca e jamais o deixe ir a algum local
desacompanhado de um adulto, porque o que o infrator quer é apenas uma
oportunidade e quando há um responsável por perto, ele não irá tentar nada,
mas, se não tiver, ela será uma vítima em grande potencial para o bandido”,
alertou Glaucia.
A criança desaparece principalmente no
caminho da escola. “A melhor orientação é deixar e buscar o filho no colégio e
acompanhá-lo em sua rotina”.
Mais de
sete anos de sofrimento
Um caso que comoveu a população manauara foi
o da jovem sorridente Shara Ruana Nascimento Reis que, em outubro deste ano
completa 15 anos de idade. Ela desapareceu com sete anos no dia 28 de outubro
de 2007, quando saiu de casa, no bairro Betânia, Zona Sul de Manaus, para ir a
uma padaria. Era um domingo, às 7h, quando ela seguiu em direção ao
estabelecimento e nunca mais retornou. O pai de Shara, o vigilante Pedro
Lourenço Reis, 55, se arrepende até hoje de ter permitido que ela fosse à
padaria naquele dia. Segundo ele, a filha sempre comprava pão na companhia da
irmã mais velha, mas, nesse dia, a irmã havia ido à igreja e Shara teria pedido
que fosse sozinha, pois já sabia o caminho. Porém foi uma ida sem volta. Até
hoje, o pai não tem pistas sobre o paradeiro da filha, mas tem esperança de que
um dia ela irá voltar aos seus braços.
“Eu tenho fé e acredito que um dia irei vê-la
novamente. Eu penso que ela está viva e sendo bem cuidada pelas pessoas que a
levaram”, disse, bastante emocionado. O pai de Shara contou à reportagem que a
filha era como se fosse a sua sombra. “Ela sempre me ajudava. No dia em que ela
sumiu, acordou cedo e me ajudou a limpar o quintal”, relembrou. Até hoje, o
vigilante se questiona do porque não a acompanhou naquele dia.
Na época do desaparecimento, o caso de Shara
saiu em todas as páginas dos jornais locais e mobilizou toda a equipe da delegada
Linda Glaucia. Segundo o pai, a delegada foi uma amiga para ele e sempre se
dedicou a encontrar sua filha. “Percorri muitos municípios do Amazonas, fui com
a delegada Linda em vários locais com cães farejadores, mas nunca encontramos”,
lamentou Pedro Reis.
Segundo Linda Glaucia, o caso não foi
esquecido e ainda está sendo investigado. Ela pede a ajuda da população. “Nós
temos que incomodar quem faz isso. A investigação só anda quando há uma
denúncia, então as pessoas podem denunciar que suas identidades serão mantidas
em sigilo”, finalizou.
Prevenir
é o melhor remédio
A delegada também pede mais atenção às redes
sociais. “Ver o que ele faz no Facebook, quais as amizades dele dentro e fora
do colégio, whatssap, então tem de acompanhar. Porque quando as pessoas
procuram a polícia é porque já aconteceu o pior, então dá pra evitar isso”,
contou.Fábio OliveiraPedro Lourenço Reis diz que ainda vai ver a filha e acabar
com a dor que atormenta o coração desde 2007, quando mandou ela ir à padaria
sozinha.
Do Jornal A Critica de Manaus